segunda-feira, novembro 19, 2007

Ele morreu.

Um turista italiano foi atropelado em uma rua do Rio de Janeiro enquanto tentava resgatar um cordão de ouro roubado de seu pai por um brasileiro. Profissão: ladrão. Talvez seja isso que tanto brasileiro saiba fazer de melhor. Na orla carioca (ou outra qualquer) os pequenos roubam os desatentos ou turistas, corajosos em ainda visitar o país. Em Brasília, os grandes roubam com foro privilegiado. Julgados por quebra de decoro são liberados e tantas vezes o povo nem se lembra do que aconteceu.

Esqueceram de avisar ao turista italiano (ou qualquer outro) que “aqui no Brasil, se você é assaltado, não reaja. Pode ser pior pra você.” O brasileiro já cresce sabendo que é melhor perder um pedaço de ouro, uma carteira, os cartões de crédito, um “pucado” de dinheiro, o carro ... depois vale até perder os documentos, parte da identidade e algo da sua dignidade como ser humano que tem o direito de ir e vir garantido pela constituição (só pela constituição). Vale perder tudo isso pela chance de ter resguardada a vida, ainda que atormentado.

Hoje a Itália deixou de guardar mágoas apenas no futebol. De volta, a família leva consigo o corpo de um filho, um irmão, o corpo de alguém que acreditava que podia fazer justiça com as próprias mãos. Ninguém avisou pra ele que aqui no Brasil, nem sempre a justiça dos homens é presente. Ninguém avisou que prevalece a esperança pela justiça de Deus, por uma apatia (ou talvez bom senso) do brasileiro que se entristece, mas nem sempre pode fazer muita coisa, porque o exemplo vem de cima. Justiça?

E pra surpresa do brasileiro, hoje nunca se viu tanto interesse policial em apurar as causas de um atropelamento. Qual é (ou seria) o brasileiro, vítima fatal de um atropelamento, que já mereceu os cuidados de uma investigação que avalie se o ônibus estava na velocidade adequada para a pista, ou ainda que retire as impressões digitais da bicicleta de um ladrão pelas chances de compará-las com as de algum suspeito preso? O cuidado que dispensaram na segurança das ruas do Rio de Janeiro (ele continua lindo!).

Mas ele não era brasileiro, ele era italiano. Talvez essa seja a forma de um país inteiro tentar se redimir por não ter avisado do “risco Brasil” ao turista que veio em busca de tranqüilidade e diversão com a família. Diga-se de passagem, com uma boa grana para colaborar no orçamento brasileiro. Esqueceram de avisar que vale mais a pena investir de longe. A economia vai bem, o risco Brasil desce. Só esqueceram de investir no povo e na educação que poderia ter evitado o começo de toda essa história.

Ele morreu. Como diria Shakeaspare, ele simplesmente morreu. Agora a família de qualquer turista que tenha vindo ao Brasil, ou a família de qualquer brasileiro que poderia estar debaixo do ônibus, volta pra casa com os filhos embalados por Nosso Senhor do Bonfim. É, tem hora que passa mesmo a sensação de que é melhor entregar pra Nosso Senhor do Bonfim e todos os Santos piedosos do Brasil. Enquanto isso, investimentos milhonários em um “novo Brasil” para receber a Copa do Mundo.

Investimos toda nossa força e trabalho para colorir o Brasil por fora. Atraímos os outros turistas, aqueles que continuam corajosos. Bom, na verdade até 2014 há muito tempo pra esquecer. Haverá muita coisa pra ser esquecida e ignorada, mas a gente chega lá. Enquanto por dentro, a gente perece, veste luto e tenta achar culpados pra crianças deseducadas, pra fome que te cala, pra adulto perdido, pra falta de segurança, pra político que se esquece do que prometeu... para aquele que rouba cordão de ouro na Orla Carioca.

Avante Brasil! È esse o país que vai sediar a Copa do Mundo 2014. Quantos não serão os quilos de ouro roubados, carteiras furtadas, máquinas fotográficas, filmadoras, celulares, ipods, eletrônicos quantos mais serão inventados até lá. Quantas não serão as identidades, os filhos, os amigos e as vidas roubadas. Quantos não são os números idealizados e outros tantos omitidos na violência pública para que sejamos o tão esperado país da Copa do Mundo. Afinal de contas, justifica tudo se somos o povo do futebol!

Quem sabe a imagem levada embora do Brasil não seja tão ruim. Afinal, a família daquele italiano terá a boa impressão de que as investigações brasileiras são levadas a sério. Ou, se nem isso funcionar, ainda há como evitar que o pior se repita na Copa do Mundo! Podemos fazer campanhas publicitárias ensinando o turista como se portar no Brasil e, principalmente, como reagir em situações de roubo! Afinal de contas, o brasileiro (pra não parecer preconceituosa em dizer “o carioca”) é esxperto. Ele vai saber desviar de ônibus!

2 comentários:

Juliana disse...

É uma pena né, que casos assim sejam tão comuns no nosso país! Esse virou notícia VIP porque era um italiano, não podemos ficar feio na fita lá fora...E viva o PAN e viva a Copa de 2014!!!
Primmaaa..Obrigada pela msg lá no blog! Realmente estou encantada, feliz demais!!!
Beijosss!!!!!

Ankh disse...

A gente nasce, cresce, é moldado, vira adulto (adulterado) e vai sendo convertido em máquina.
Anda, corre-para.
Trabalha, trabalha, recebe-assiste-come-dorme.
"ah velho, não fode".
Brasileiro é bom em entender tudo aquilo que deveria envergonhar-se.
Jeitinho brasileiro.
Jeitinho fácil de não reagir.

O jeito é sermos bons exemplos em função de nós mesmos. Já que pelos outros "o mundo é dos espertos".

Prefiro continuar bobo.